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quinta-feira, 9 de abril de 2020

Conto musical: Tears Dry On Their On


Ela olhava atentamente para o relógio à sua frente, hipnotizada com seu tique-taque. Cada segundo que passava era um segundo a menos de angústia, de espera por ele. .
Ah... ele! O pior e o melhor de sua vida! Seu pecado, sua virtude, seu troféu agridoce. Seus gestos seus modos, seu toque... tudo nele era tão encantador, inebriante, apaixonante... Como gostaria de estar em seus braços naquele momento! Mas ao mesmo tempo desejava nunca mais vê-lo! Porque ele seria perfeito, sua mais perfeita fonte de felicidade... se fosse só dela.

A primeira vez foi um momento de fraqueza - era o que ela sempre dizia - culpa da bebida, da chuva, do único taxi disponível. Isso ela se repetia sempre para justificar suas roupas espalhadas pelo chão do quarto dele no dia seguinte. "Eu amo a minha noiva, nós vamos nos casar em breve.", ele dizia. . "Foi um erro, isso não irá mais se repetir", ela respondeu. E foi assim... até a semana seguinte e o telefonema dele "Não paro de pensar em você, não sei o que há comigo". Encontro marcado no café... e de novo suas roupas terminaram no chão do quarto dele. "Não vai mais se repetir!" disse enfática. Mas depois, bem... aquilo se repetiu duas, três, infinitas vezes. E ao cobrar uma atitude dele, o cidadão apenas respondeu: "Eu amo você, mas meu amor por ela é maior, nós vamos nos casar!" complementando com um cortante "Não espere de mim mais do que eu posso dar." . "Não espere de mim mais do que eu posso dar." Essa frase martelava na sua cabeça em sintonia com o tique-taque do relógio. A hora havia chegado. Deveria partir para o hotel naquele lugar escondido - onde passaram a se encontrar - ou deveria permanecer onde estava, tentando combater aquele vício maldito no fruto proibido? No seu fruto proibido.

Mas ela não conseguiu resistir. Logo estava dentro do taxi, rumo ao seu paraíso - e à sua perdição. E ele estava lá, à sua espera. Encantador, apaixonante,inebriante como sempre. Em seus braços esqueceu de tudo, durante aquelas horas tudo pareceu certo, perfeito, mágico! Assim, ela adormeceu em seus braços achando que tudo valia à pena. 

"Querida, acorda! Precisamos ir." - ele diz apressado

O sonho acabou e a triste realidade voltou à tona. Ela o viu recolher suas roupas e se vestir, mandando-a fazer o mesmo. "Rápido, você sabe que eu não posso demorar!" Ela sabia o porquê. Sabia que estava na hora de encontrar a "oficial".

Desceram juntos, mudos. Ao chegar à porta do hotel e ele a olhou profundamente nos olhos. "Vou sentir saudade." E ela, com o coração moído respondeu "Eu também." "Até semana que vem." ele disse e a beijou no rosto. Ela só conseguiu balbuciar: "Até."

Ele se virou e seguiu o seu caminho. Ela o acompanhou com o olhar até o perder de vista. Sentiu uma lágrima descer por seu rosto.

"He walks away,
Ele se vai
The sun goes down,
O sol se põe
He takes the day but I'm grown
Ele leva o dia consigo, mas sou adulta
And in your way,
E do seu jeito
My deep shade,
Nesse tom triste
My tears dry on their own
Minhas lágrimas secam por conta própria"

Por quanto tempo conseguiria viver assim? - ela se perguntava. Até quando valeria passar por aquilo tudo e terminar o dia com aquelas lágrimas descendo incessantemente?

Isso ela não sabia responder, resistir parecia uma coisa impossível, impensável! Ele era um vício daqueles piores sob o qual ela não tinha nenhum controle! Conformou-se então em conviver com suas lágrimas, que acabariam secando por conta própria.

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