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quinta-feira, 9 de abril de 2020

Coisas que a gente só entende depois


   Preciso confessar: durante algum tempo eu te odiei (mesmo te amando) profundamente. Queria muito a sua infelicidade e que você se desse muito mal na sua vida. Sim eu sei ser bem rancorosa e isso não é algo de que eu me orgulhe, tentar não guardar ressentimento é um exercício diário pra mim.

   Só sei que durante esse tempo eu achava que a sua felicidade soava como uma grande zombaria ante a minha incapacidade de te superar. E eu juro, eu tentei. E era muito exaustivo constatar que mesmo com todos os meus esforços para bloquear todo e qualquer sentimento por você, eu ainda sentia as borboletas no meu estômago todas as vezes que te via. Cheguei a pensar em um certo momento que nunca iria conseguir me envolver com ninguém novamente. 

  Sim, eu te superei. Mas estou contando as coisas pelo final. Antes do novo amor, houve um período de muitas dúvidas em que a vida me pôs na mesma posição que você estava naquela época. E tenho que admitir: admiro a sua coragem de ter dado nos dado um ponto final. Eu, no seu lugar não teria conseguido, como de fato não o fiz.

   Hoje consigo entender que não daríamos certo. Acredito que certas coisas realmente tem que acontecer e você ter terminado com a gente foi uma delas. Estar do outro lado do jogo por algum tempo me fez entender a sua atitude. E constatar que você não foi aquele aquele monstro tão abominável que eu pintei durante todo aquele tempo. Foi apenas honesto comigo e com o que você sentia na época.
   
   Por que eu estou escrevendo isso? Sei lá, acho que pode ter a ver com o tal exercício diário de não guardar rancor. Você, de todas as pessoas que passaram pela minha vida, foi a pessoa por quem eu mais nutri esse tipo de sentimento.Eu queria expurgar todo esse sentimento ruim de uma vez. Se o amor que eu sentia por você ficou no passado, por que não deixar pra trás as coisas ruins também?

   Tem coisas que a gente realmente só entende depois. Depois de alguns anos, alguns amores, algumas  pessoas e acontecimentos que mudam completamente a nossa visão sobre as coisas Depois que a maturidade nos torna (assim espero) pessoas melhores.

Quando isso tudo passar


Vou  sair por aí sem destino. Abraçar desconhecidos. Cantar bêbada nas ruas. Visitar parentes. Vou marcar todas as saídas que ficaram no “vamos marcar qualquer dia”. Vou jantar naquele restaurante caríssimo e usar todas as roupas que eu parcelei em 6x vezes sem juros e que agora jazem tristes no meu armário.

Vou voltar pra academia, ou melhor, virar a miss simpatia da academia! Cortar açúcar, fast food, congelados. Vou correr no parque todos os domingos.

Vou fazer o meu cabelo, unhas, depilação. Vou passar o dia inteiro no shopping, ver um filme por dia no cinema.

Vou ligar pra uma certa pessoa. Vou descobrir se era amor ou carência. Vou viajar - meu Deus - como eu quero viajar!

Vou voltar a ser eu. Mas não sei se o eu de antes será o mesmo eu… quando isso tudo passar!

Conto musical: Tears Dry On Their On


Ela olhava atentamente para o relógio à sua frente, hipnotizada com seu tique-taque. Cada segundo que passava era um segundo a menos de angústia, de espera por ele. .
Ah... ele! O pior e o melhor de sua vida! Seu pecado, sua virtude, seu troféu agridoce. Seus gestos seus modos, seu toque... tudo nele era tão encantador, inebriante, apaixonante... Como gostaria de estar em seus braços naquele momento! Mas ao mesmo tempo desejava nunca mais vê-lo! Porque ele seria perfeito, sua mais perfeita fonte de felicidade... se fosse só dela.

A primeira vez foi um momento de fraqueza - era o que ela sempre dizia - culpa da bebida, da chuva, do único taxi disponível. Isso ela se repetia sempre para justificar suas roupas espalhadas pelo chão do quarto dele no dia seguinte. "Eu amo a minha noiva, nós vamos nos casar em breve.", ele dizia. . "Foi um erro, isso não irá mais se repetir", ela respondeu. E foi assim... até a semana seguinte e o telefonema dele "Não paro de pensar em você, não sei o que há comigo". Encontro marcado no café... e de novo suas roupas terminaram no chão do quarto dele. "Não vai mais se repetir!" disse enfática. Mas depois, bem... aquilo se repetiu duas, três, infinitas vezes. E ao cobrar uma atitude dele, o cidadão apenas respondeu: "Eu amo você, mas meu amor por ela é maior, nós vamos nos casar!" complementando com um cortante "Não espere de mim mais do que eu posso dar." . "Não espere de mim mais do que eu posso dar." Essa frase martelava na sua cabeça em sintonia com o tique-taque do relógio. A hora havia chegado. Deveria partir para o hotel naquele lugar escondido - onde passaram a se encontrar - ou deveria permanecer onde estava, tentando combater aquele vício maldito no fruto proibido? No seu fruto proibido.

Mas ela não conseguiu resistir. Logo estava dentro do taxi, rumo ao seu paraíso - e à sua perdição. E ele estava lá, à sua espera. Encantador, apaixonante,inebriante como sempre. Em seus braços esqueceu de tudo, durante aquelas horas tudo pareceu certo, perfeito, mágico! Assim, ela adormeceu em seus braços achando que tudo valia à pena. 

"Querida, acorda! Precisamos ir." - ele diz apressado

O sonho acabou e a triste realidade voltou à tona. Ela o viu recolher suas roupas e se vestir, mandando-a fazer o mesmo. "Rápido, você sabe que eu não posso demorar!" Ela sabia o porquê. Sabia que estava na hora de encontrar a "oficial".

Desceram juntos, mudos. Ao chegar à porta do hotel e ele a olhou profundamente nos olhos. "Vou sentir saudade." E ela, com o coração moído respondeu "Eu também." "Até semana que vem." ele disse e a beijou no rosto. Ela só conseguiu balbuciar: "Até."

Ele se virou e seguiu o seu caminho. Ela o acompanhou com o olhar até o perder de vista. Sentiu uma lágrima descer por seu rosto.

"He walks away,
Ele se vai
The sun goes down,
O sol se põe
He takes the day but I'm grown
Ele leva o dia consigo, mas sou adulta
And in your way,
E do seu jeito
My deep shade,
Nesse tom triste
My tears dry on their own
Minhas lágrimas secam por conta própria"

Por quanto tempo conseguiria viver assim? - ela se perguntava. Até quando valeria passar por aquilo tudo e terminar o dia com aquelas lágrimas descendo incessantemente?

Isso ela não sabia responder, resistir parecia uma coisa impossível, impensável! Ele era um vício daqueles piores sob o qual ela não tinha nenhum controle! Conformou-se então em conviver com suas lágrimas, que acabariam secando por conta própria.

Dias atrás


O ano era 2003. Não existia smartphone, a internet era discada - pessoas com menos de 20 anos nunca vão experimentar a alegria de ouvir o barulhinho da conexão depois de tantas tentativas - e a gente achava que o combo meia listrada colorida + tênis de plástico + minissaia com pregas era  a combinação mais fashionista do mundo! 

Eu era uma pré-adolescente prestes a completar 12 anos. Não tinha sido um ano fácil, logo,  no meu aniversário não seria possível fazer grandes extravagâncias. Mas lógico que um bolinho não iria faltar. E docinhos. E o quibe de frango da minha bisavó.

Confesso que na época fiquei um pouco frustrada, por que tudo sempre tinha que ser tão difícil? A vida poderia ser pelo pelo menos um pouquinho como os filmes e as novelas que eu via na TV.

Chegou o grande dia. Chamei as minhas três melhores amigas da época para passarem o dia comigo. Assim que chegamos à casa, uma surpresa: elas haviam feito um presente para mim! Vários bombons dentro de uma caixa feita por elas em nossas aulas de artes. Era algo simples, mas tinha tanto carinho nesse gesto que me emocionou!

Na época o meu passatempo preferido era “brincar de rádio”. Sim, antes de stories, youtube, podcast, eu gravava meu próprio programa de rádio em fitas k7 dando dicas, indicando músicas, falando sobre a vida. Naquele dia as meninas participaram e, logo depois de tocarmos “Dias Atrás” do CPM 22 - que estava super em alta porque fazia parte da trilha sonora de Malhação - foi puxado um parabéns em coro para mim. Essa gravação se perdeu com o tempo, mas na minha memória esse momento continua fresco e nítido, como se tivesse acontecido ontem. .
Lembro-me de mais tarde naquele dia olhar para a minha família e as minhas amigas, todos juntos lá por minha causa, e ser invadida por aquela sensação de felicidade e plenitude que preenchem o coração.

Agora “Dias Atrás” acabou de tocar aleatoriamente na minha playlist. E as lembranças daquele dia voltam à minha mente como em um filme.

Aquele foi o dia em que eu descobri que a gente não precisa de muito para ser feliz. E por mais piegas que possa parecer, encerro essa crônica com o com o único clichê possível: a gente só precisa de amor!

Eu escrevo


Eu escrevo. Antes até mesmo de saber escrever. Talvez até antes de saber o real significado do que é escrever. É natural, intrínseco, algo tão meu como uma parte do meu corpo.

A escrita pra mim sempre foi terapêutica, catártica. Uma maneira de driblar a timidez, aquela incômoda característica minha que me impedia de fazer tantas coisas… a insegurança que fazia minha voz calar! Os anos a diluíram, hoje sou alguém diferente daquela menina que registrava - e engavetava - seus sentimentos nas linhas pautadas de um caderno ou de um arquivo .doc.

Mas ainda sim… a escrita! Ah, a escrita é meu dom natural, por mais pretensiosa que eu possa parecer agora. É o meu eu cru.

E por isso eu escrevo. Nesse exato momento o velho hábito de juntar letrinhas me ajuda a aliviar esse coração pesado, tão cheio de angústias e incertezas. Tão confuso e incerto do que está por vir, mas ao mesmo tempo tão pulsante de esperança que essa tempestade vai ter fim!

Vai passar. Tudo passa.

Gratiluz


A palavra "gratidão" se tornou a favorita de muitos. Nas redes sociais, ela vem sempre acompanhada da hashtag, legendando fotos de pessoas contemplando o horizonte, ou posando de mãos postas e um ar pleno e inabalável. Nada contra esse tipo de registro, mas fico pensando se de fato a gratidão do Instagram realmente corresponde à vida real.

Porque na vida offline, tudo o que fazemos é reclamar. Reclama-se do trânsito, das pessoas, do trabalho, do dinheiro, dos familiares… a lista é longa e só cresce. A insatisfação é um poço sem fundo onde muitos se afundam. E alguns, pasmem, parecem não querer sair dessa situação. E com isso se tornam bombas-relógio, prontas para se autoexplodirem e atingirem a todos àqueles que estão próximos.

Vivemos na "rodinha do hamster". Só correndo, no piloto automático, sem pararmos para apreciar as pequenas alegrias que a vida nos dá. Seja algo simples como um dia de sol depois de uma semana inteira de chuva, um encontro inesperado com um amigo na hora do almoço, uma mensagem de uma pessoa querida, ou até mesmo uma situação engraçada ocorrida no trabalho.

Sejamos mais "gratiluz"! Vamos treinar o olhar para enxergar as coisas boas, mesmo quando está tudo uma droga. Não precisa bater palma pro sol, não precisa anunciar isso para o mundo, basta que você faça apenas por você. 

Autossuficiente


Imagine aquela mulher com M maísculo. Aquela inteligente, interessante, bem-sucedida. Que faz todos babarem porque simplesmente possui algo que muitas não têm: independência. Não só a financeira, mas principalmente a emocional.

Há muito tempo prometi a mim mesma que seria essa mulher. Não precisaria estar em relacionamento para me sentir feliz e completa. Por algum tempo consegui. Muitos passaram por minha vida, mas nenhum fez qualquer diferença nela. Ees sempre foram o que eu dizia que eram: covardes. Se sentiam intimidados quando viam que eu não precisava deles para absolutamente nada. Que eu estava lá apenas porque EU queria. Eles não aguentavam a pressão. Davam o fora, sumiam. Um atrás do outro.

 Até que ele apareceu. No começo achei que seria como os outros, logo iria embora, mas não. Estranhamente não pareceu se intimidar pelo meu jeito, por mais que eu me esforçasse para isso. .
Eu acabei baixando a guarda. Quando dei por mim, ele havia se alojado no meu coração. E, eu, apaixonada não percebi que ele aos poucos passou a controlar minha vida, minhas escolhas. Eu passei a não ter voz. E, se tentasse falar, rapidamente me transformava na “chata”, “intransigente”, “cabeça-dura”. Louca

 E no auge da loucura pedi pra ele ficar. Ele negou e eu fiquei triste, arrasada, despedaçada. Foi então que eu percebi que eu não era mais a mulher que costumava ser.

 Eu estava parada em frente ao seu prédio, pronta para implorar quando me veio esse "estalo". Quase imediatamente saí dali, com pressa, como se eu corresse perigo de vida se permanecesse naquele lugar. Fui pensando em como deixei isso acontecer, como era possível que alguém tivesse levado a minha independência tão preciosa? E tomei uma decisão, me prometendo que isso nunca mais iria se repetir.

Hoje vou pintar minhas unhas de vermelho (como diz Ana Carolina), vou vestir minha melhor roupa, pôr o meu salto alto (aquele altíssimo, que ele odiava) e ser feliz por aí! E não vou precisar de você para isso.

Porque eu sei ser autossuficiente!